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por mountaineerbr

#34 Pesticidas Naturais e Alimentação


Como sabemos, somos química! E portanto afirmar e generalizar que ter contatos com produtos químicas seja uma má idea para nós pode ser uma grande bobagem.

Palestra do Bruce Ames foi in-crí-vel. Ele é biólogo molecular, parece ser um daqueles caras bem bonzinhos e recebeu vários prêmios científicos internacionais. Ele investiga, entre outras coisas, toxicologia e cânceres. Inclusive, minha experiência acadêmica tem vários pontos tangentes com a desse cara, mas claro, em nível infinitamente menor..

Mas vamos lá, para começar desmistificando essa conversa de que agrotóxicos, ou defensivos agrícolas, fazem mal para saúde, o argumento mais abrangente é de que a expectativa de vida tem aumentado, tanto em nível global como em nível nacional. Esse é um argumento forte, pois se realmente estivéssemos cada vez mais em perigo devido à exposição e contato com moléculas tóxicas em concentrações significativas, seria difícil o ser humano ganhar idade ao invés do contrário.

Graph from Bruce ppt
Figure 1. Slide from Bruce Ame que mostra que as taxas de cânceres tem, na realidade, diminuído ao longo do tempo, pelo menos nos EUA e com exceção da taxa de cânceres por tabagismo.

Conversando com meu amigo servidor público e bibliotecário de peixes esses dias atrás, ele me falou que o laboratório ao lado do museu onde ele trabalha havia feito uma pesquisa com o resultado de que realmente os agrotóxicos produzem resíduo tóxico. Perguntei para meu amigo, que gosta muito de física, se os raios solares e o vento não degradariam o agrotóxico quando ele estivesse em forma de spray na aplicação?

Me respondeu que sim mas que na realidade, a pesquisa do laboratório ao lado havia descoberto que o princípio ativo do agrotóxico se degradava m compostos inativos, mas que havia outras substâncias no agrotóxico (por ex. estabilizadores, antioxidantes e conservantes) que quando degradadas adquiriam atividade. Pois bem, isso não me espanta nem um pouco. Essas outras substâncias, porém, estão em concentrações extremamente menores do que a do princípio ativo e imaginar que mesmo essas moléculas ativas não degradem depois de mais oxidação quando estiverem no ambiente de aplicação (vento, ar, luz solar, umidade - todos fontes de oxidação) também é ingênuo. Ainda bem que não falei que esse tipo de pesquisa (e conclusão) que ele estava me falando não era uma grande bobagem e mal uso do dinheiro público..


Voltando para a apresentação do Bruce, ele mostra o seguinte slide com 49 pesticidas naturais e diz que pelo menos metade desse metabólitos, se for checar, são carcinogênicos.

Another graph from Bruce ppt
Figure 2. Pesticidas naturais (e metabólitos) do repolho da apresentação de Bruce.

Essa é uma ideia nova para mim e que me estava faltando no grande quebra-cabeças!

Uma pesquisa rápida na internet gera resultado muito interessantes para esse tópico.

Pelo contrário, 99,9 por cento dos produtos químicos que os humanos ingerem são naturais. As quantidades de resíduos de pesticidas sintéticos em alimentos vegetais são insignificantes em comparação com a quantidade de pesticidas naturais produzidos pelas próprias plantas (Ames et al. 1990a; Ames et al. 1990b).

Pesquisa em Science Direct,
ver também Ames, 1990.

Até mesmo em um copo de café há tantos carcinogênicos!

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Se usados observando-se as instruções do fabricante e com proteção individual em aplicações, os agrotóxicos não nos representam um perigo, mas sim uma forma de enriquecermos nossa alimentação com produtos mais bonitos e com maior qualidade.

Posso afirmar isso sem medo, mesmo tendo história familiar que meu avô morreu de leucemia que dizem ter sido causada por um uso, infelizmente, errado de agrotóxicos na sua plantação de hortelã da qual ele extraía óleo para venda. Naquela época, os agrotóxicos eram utilizados sem muita proteção ou observância das instruções. E olha que meu avô era farmacêutico da cidade e ajudou muitos a se curarem, então fico pensando por que será foi o descuido dele com agrotóxicos?

Não muito tempo atrás, os pesticidas eram novidade e não havia tanta preocupação com segurança e equipamentos de segurança pessoal na aplicação por que, de fato, são substâncias muito seguras já que são desenvolvidas para atacar um alvo que não é ser humano. Ocorre que, assim como remédios, certas moléculas podem ser inócuas em altas dosagens para a maioria das pessoas mas, dependendo do corpo de certas pessoas, pode ser tóxica em quantidades muito menores. Por via das dúvidas cuidados básicos no manuseio e aplicação devem ser mantidos!

De qualquer forma, a mentalidade há poucas décadas era outra. Não devemos demonizar os agrotóxicos hoje em dia por erros que ocorreram no passado que foram esclarecidos, já que mecanismos de ações dessas moléculas e de cuidados para proteção foram estudados e desenvolvidos. Minha esperança é que haja menos ignorância e maior responsabilidade no uso para o bem de todos que possa ser promovido!


Mais referências:

Article: 99.99% Of The Pesticides We Eat Are Made By Plants, por Josh Bloom (2018)
Não há diferença entre compostos químicos naturais e sintéticos pois o corpo não fará essa distinção na metabolização. As plantas produzem pesticidas pois precisam lutar contra predadores insetos.